segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Biutiful

Agora sim posso afirmar que assisti a um filme que é puro drama, do começo ao fim: BIUTIFUL. Feio e "Biutiful" ao mesmo tempo.
No filme, Javier Bardem é Uxbal, um herói trágico, pai de dois filhos, que, descobre estar com câncer em estágio terminal, à beira da morte. Ele coordena vários negócios ilícitos, que incluem a venda de produtos nas ruas da cidade e a negociação do trabalho de um grupo de chineses, cujo custo é bem menor por não serem legalizados e viverem em condições precárias (mostrando, assim, paralelamente, a situação dos emigrantes ilegais na Espanha). Além disto, ele possui o dom de falar com os mortos e usa esta habilidade para cobrar das pessoas que desejam saber mais sobre seus entes que partiram há pouco tempo.
Nesse universo de degradação, miséria, exploração e morte, Uxbal precisa conciliar sua agitada vida com o papel de pai de dois filhos, já que a mãe deles, Marambra (Maricel Álvarez), é bipolar. E lutar contra uma realidade distorcida e um destino que trabalha contra ele, o impedindo de perdoar e amar, mas tentando a todo custo manter a dignidade.

BIUTIFUL mostra uma realidade tão cruel e tão distante da que eu vivo que me senti sufocada ao me dar conta de que, agora, nesse momento, os dramas do filme estão acontecendo pelo mundo.

Se você não assistiu, pare por aqui (mas corra para a locadora e vá assistir), pois lá vem spolier...

Algumas "dúvidas" pairam sobre o filme, com o seu final, dúvidas essas que acredito terem sido deixadas de forma proposital, para manter a tensão desse drama todo que é a vida de Uxbal.
A principal paira em torno do destino de Ige e os filhos de Uxbal. Acredito que Ige não voltou (sim ela fugiu com o dinheiro economizado para 1 ano de vida). A visão da volta de Ige foi o último delírio de Uxbal já a beira da morte. Fiquei com ódio dela e, ao mesmo tempo, me senti culpada por julgá-la... será que eu não faria o mesmo naquela situação? O marido preso e, de certa forma, explorado e usado por Uxbal, ilegal, com um filho pequeno. Por que ficar em Barcelona responsável por criar os filhos do homem que, na cabeça dela, destruiu sua vida? Mas, ao mesmo tempo, virar as costas para aquela situação é muita desumanidade... mas a vida é dura não é mesmo? Ainda que eu saiba que se trata de um filme, fiquei agoniada com o destino daquelas crianças, os filhos do Uxbal...

E a morte dos chineses? O que aconteceu com os eles também foi MUITO forte e me faz pensar em como somos insensíveis e indiferentes com fatos como esse que acontecem... que estão acontecendo agora! Trabalho escravo, miséria, exploração...
Lógico que, o diálogo entre Uxbal e sua filha na cama aconteceram após a morte dele e deixam clara a mediunidade que a filha também possui.
Por fim, o encontro na neve é entre Uxbal e o pai que ele nunca conheceu, pois fugiu para o México antes do seu nascimento, fugindo do regime da Espanha na época.

Não assisti a "Discurso do Rei", mas não acredito que a atuação do Colin Firth tenha tido uma atuação melhor que a do Javier Bardem (ok, sou uma fã louca, obcecada por esse homem), mas Javier dá um show! Ele é o filme, ele carrega todo o drama da história, ele está impecável como sempre...

BIUTIFUL vai para minha lista de favoritos... mas assisti-lo é pesado... não é para qualquer um, muito menos depois de um dia ruim...